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25 de Julho, 2014

PR EM TIMOR-LESTE - CPLP deve dar ênfase à cooperação económica

APARENTEMENTE, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa privilegia a língua, por ser comum, no entanto, falar só da língua é insuficiente. É necessário desenvolver e estimular outro tipo de vivências.

É necessário, contrariamente àqueles que vêem na descontinuidade geográfica uma barreira, dar ênfase à cooperação económica, pois, apesar dos nossos parcos recursos, cada país tem naturalmente algo para oferecer e, desse modo, estaremos a robustecer as nossas relações e teremos uma CPLP que vai além da língua e da cultura.

Esta tese foi defendida ontem em Díli pelo Presidente da República, Armando Guebuza, no decurso de uma reunião que manteve com os moçambicanos e amigos de Moçambique residentes em Timor-Leste. De acordo com Guebuza, falando terra-a-terra com os pouco mais de 50 participantes no encontro, muita gente defende que é impraticável desenvolver uma cooperação frutuosa entre os países integrantes da comunidade lusófona, por um lado, devido às distâncias entre uns e outros – a CPLP abrange Estados de quatro continentes, designadamente África, América, Ásia e Europa -; e, por outro, porque esses mesmos países não dispõem de recursos financeiros para o efeito.

“Primeiro, devo dizer que a questão da distância não deve constituir uma barreira, mas sim um desafio à nossa criatividade para melhor explorarmos e alargarmos a nossa amizade para a esfera económica, mesmo com os nossos parcos recursos. Não precisamos de estar localizados na mesma região para desenvolvermos a cooperação que desejamos. Moçambique, por exemplo, tem sólidas relações económicas com China, Grã-Bretanha e Estados Unidos, mas nenhum destes países é nosso vizinho. Portanto, consolidada a questão da língua que nos entrelaça temos que ser ousados e partirmos também para a frente económica”, vincou o Presidente da República.

Perante uma multifacetada audiência constituída por moçambicanos que trabalham em Timor-Leste em diversas instituições internacionais ou do Governo maubere, e por timorenses – eram a maioria na sala – que viveram e outros até nasceram no nosso país, nomeadamente durante o período de ocupação indonésia, Guebuza destacou que a X Cimeira da CPLP foi uma rica experiência e revelou que existem muitas coisas em comum entre os Estados-membros e muita amizade entre os respectivos dirigentes, situação que fez com que as discussões também decorressem numa atmosfera de amizade e de camaradagem.

Mas, apesar desta atmosfera, o Chefe do Estado moçambicano defendeu que a CPLP não deve ser somente uma organização dos dirigentes, mas sim uma organização dos povos, pois isso conferir-lhe-á a credibilidade e o reconhecimento junto dos cidadãos de cada um dos países integrantes. “Saimos satisfeitos de Timor-Leste, uma vez que a cimeira foi muitíssimo bem organizada. O país é novo, porém demonstrou um alto nível de organização, vaticinando uma boa liderança da CPLP para os próximos dois anos por parte do Presidente Taur Matan Ruak”, ajuntou.

SEGURANÇA ALIMENTAR CONTINUA EM CARTEIRA

Embora a Cimeira de Díli tenha decorrido sob o lema “A CPLP e a Globalização”, a segurança alimentar e nutricional, objecto escolhido por Moçambique quando há dois anos acolheu o encontro dos Chefes de Estado e de Governo da comunidade, continua um desafio para todos os países.

A propósito, o Presidente da República disse, falando a jornalistas moçambicanos que o acompanharam a Timor-Leste, que a imperatividade do assunto levou a CPLP a considerá-lo como tema de agenda das suas cimeiras até 2025, dado constituir uma preocupação incontornável de cada Estado-membro. E para se levar a bom porto este desafio comum a comunidade conta com a grande cooperação e sensibilidade do Fundo das Nações Unidas para Agricultura (FAO), facto expresso, aliás, pelo seu director-geral, José Graziano da Silva, na sessão de abertura do evento.

“Timor-Leste, que passou à presidência da CPLP, apresentou um bom e ambicioso programa, e nós, Moçambique, daremos a nossa colaboração para a sua integral concretização. No âmbito da cooperação económica, Timor deu um passo importante, ao convidar os outros países no sentido de se criar um consórcio para a exploração de hidrocarbonetos, tendo em conta os recursos de que cada um dispõe. Vai se formar um grupo que se encarregará de fazer o devido estudo e pensamos que alguma coisa irá acontecer”, concluiu Armando Guebuza, que deixou ontem mesmo Díli, devendo desembarcar em Maputo ao longo do dia de hoje.

ALEXANDRE ZANDAMELA, em Díli (colaboração)