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Brasil

17 de Maio, 2019

O cooperativismo é a nova chance para mulheres encarceradas

A cooperativa de mulheres dentro do presídio do Pará se tornou o melhor caminho para a liberdade Para uma sociedade se manter estruturada todos os seus setores devem ser organizados e pensados com prioridade. Pensando nisso, o sistema prisional brasileiro é isento da pena perpétua e visa, teoricamente, a reinserção dos presos dentro do ambiente social. Na prática, essa medida não funciona tão incisivamente, mas existem pessoas, iniciativas e projetos que fomentam essa atitude e fazem a diferença no meio coletivo, como, por exemplo, a Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina Empreendedora.

A Coostafe, primeira cooperativa de mulheres presas do Brasil, nasceu em fevereiro de 2014, no Pará, dentro do Centro de Reeducação Feminino de Ananindeua, a partir da necessidade de proporcionar trabalho, renda e dignidade às mulheres encarceradas.

A ideia foi da diretora do Centro de Reeducação Feminino de Ananindeua, Carmen Botelho, que percebeu a falta de atividades para gerar resultados positivos dentro do cárcere e, ao conversar com as detentas, descobriu que haviam muitas mulheres que possuíam conhecimento na arte do bordado, crochê, pelúcia, bijuterias e artesanato. Uma oportunidade de mudança. ”Fizemos um curso para outras mulheres que se interessaram em aprender. Todo material confeccionado durante o curso foi vendido em um grande bazar e todo dinheiro arrecadado foi repassado a elas, que adoraram a experiência e pediram que eu viabilizasse um projeto para realizar isso sempre. Estudamos varias possibilidades e, quando percebemos que o cooperativismo seria o ideal, pedimos ajuda ao Sistema OCB/PA, que nos orientou e nos ajudou a implantar a cooperativa na cadeia”, declara Carmen.

Segundo a diretora, além da falta de estrutura física dos presídios da maioria do país, o maior problema dentro do sistema penitenciário brasileiro ainda é a invisibilidade. A falta de acesso à educação, saúde, emprego ou capacitação as tornam um grupo esquecido pelo sistema, as impedindo de provar para a sociedade que são capazes de traçar um novo rumo em suas vidas, tornando a cooperativa o caminho para uma nova chance. “Elas passaram a sorrir, tem mais disposição, pararam de tomar remédios para depressão, adquiriram mais confiança em si. Voltaram a estudar, procuram aprender novas técnicas, assim como também aprenderam a usar o dinheiro que ganham para reinvestir no negócio. Voltaram a sonhar com um futuro melhor”, acentua a diretora do CRF.



O impacto da cooperativa, porém, não se limita apenas as mulheres encarceradas, uma vez que mais de 200 já passaram pela organização e nenhuma até o momento teve reincidência, contribuindo assim com uma sociedade melhor. Carmen Botelho enfatiza a importância de ensinar essas mulheres a serem donas dos próprios negócios e empreendedoras. “Elas esperam alguém empregá-las depois de sair do cárcere, mas isso infelizmente não acontece”, relata. Atualmente, só no presídio feminino de Ananindeua, 80% das mulheres estão presas por tráfico de drogas, o que reforça como o contexto social em que estão inseridas precisa ser analisado com mais relevância pelo estado, que muitas vezes é omisso à questão.

Cooperativismo social
No Brasil, a Lei n 9.867, de 10 de novembro de 1999, diz que as cooperativas sociais têm a função de “inserir as pessoas em desvantagem no mercado econômico, por meio do trabalho”. Portanto, o cooperativismo é um meio de produzir vínculos sociais para as pessoas à margem da sociedade, além de proporcionar independência econômica e oportunidade de reabilitação a partir de atividades produtivas. Para Carmem Botelho, as cooperativas sociais “mostram que todos estamos sujeitos a erros e que podemos mudar o rumo das nossas vidas. Ensinam que devemos compartilhar o amor e nos colocar no lugar do próximo, sempre fazendo nossa parte para que tenhamos a tão sonhada paz social”.

Os produtos produzidos pelas mulheres dentro do Centro de Reeducação Feminino de Ananindeua são vendidos online por uma conta no Instagram (@coostafe) e o trabalho é dividido pelas diretoras da cooperativa as cooperadas, assim como o dinheiro arrecadado, observando a produção de cada uma.

Iniciativas como essa provam como o princípio de cooperação está inserido na sociedade e é extremamente necessário para garantir seu bom funcionamento e equilíbrio. Hoje, a COOSTAFE segue fazendo a diferença e sendo uma importante ferramenta de transformação social. “O futuro da cooperativa é ser reconhecida como um símbolo da resistência e do protagonismo feminino, independente do seu pleno funcionamento ou de eventual desmonte promovido pela descontinuidade de Governo”, finaliza Carmen.

Por Fernanda Ricardi – Redação MundoCoop