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Moçambique

07 de Novembro, 2014

Dhlakama defende governo de gestão

07 de Novembro de 2014, 12:16

O líder da Renamo, principal partido de oposição, Afonso Dhlakama, defende a criação de um "governo de gestão", considerando que a Frelimo "não tem legitimidade" para formar um executivo, devido a uma alegada fraude nas eleições gerais.

"Um Governo, diria eu, de gestão. Para gerir o país num determinado período. Neste caso, seria Fevereiro ou Março de 2015 em que o Governo toma posse, até 2019. Esse executivo desaparece com a tomada de posse do Governo que sairá das eleições de 2019", afirmou Afonso Dhlakama, em entrevista publicada hoje pelo semanário Savana.

Segundo o presidente da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), um governo de gestão no país justifica-se, porque a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) e o seu candidato presidencial, Filipe Nyusi, não têm legitimidade para governar, alegando que as eleições gerais foram fraudulentas.

"O meu amigo Nyusi não tem legitimidade para formar Governo. Todos nós estamos contra ele. Até a comunidade internacional está contra o roubo. Portanto, com que cara ele vai pretender ser chamado vencedor e formar Governo?", questionou Afonso Dhlakama.

Indagado se integraria um eventual governo de inclusão, caso a sua proposta fosse aceite, Dhlakama rejeitou essa possibilidade, assumindo o desejo de ter formalmente reconhecido o estatuto de líder da oposição.

"Eu, Afonso Dhlakama, quero aproveitar o Savana e declarar que não vou entrar nesse Governo", disse o líder da Renamo. "Ainda bem, porque o Presidente da República, aquando da assinatura do acordo de cessação das hostilidades em Setembro, publicamente, anunciou o interesse de o país de implementar a ideia de criar um estatuto de líder da oposição. Isso eu posso exigir mesmo amanhã", frisou.

Para o líder do principal partido de oposição em Moçambique, um eventual governo de gestão teria de incluir outros partidos, mas com a Frelimo e a Renamo a assumir um papel de maior peso, por serem as duas principais forças políticas do país.

Declarando-se "o líder mais votado" nas eleições gerais de 15 de Outubro, principalmente no centro e norte do país, Afonso Dhlakama propôs a repartição de votos no círculo eleitoral de Gaza, sul do país, um bastião da Frelimo e palco de cenas de violência durante a campanha, por supostamente não ter havido concorrência.

"Não posso aceitar que todos os mandatos de Gaza sejam da Frelimo, quando lá não é permitida a concorrência", realçou Afonso Dhlakama. "Se não eu também agitaria Sofala a dizer que isto é do Dhlakama e não há outro partido", acrescentou, referindo-se à província de Sofala, centro, reduto do principal partido de oposição.

Questionado sobre a sua participação nas eleições gerais de 2019, que seriam as suas sextas, após cinco derrotas, Afonso Dhlakama admitiu a hipótese de não concorrer nesse escrutínio.

"Não sei se me candidataria. É cedo demais para responder a essa pergunta. Nem sei se vou chegar lá. Mesmo chegando, se calhar chegarei cansado. Há jovens no partido. Eu poderei voluntariar-me para não ser candidato. Estou cansado em lutar pela democracia no meu país, mas ao mesmo tempo estou satisfeito, porque estou a conseguir o que outros líderes africanos não conseguiram", disse Afonso Dhlakama.

Sobre o impasse nas negociações entre o Governo e a Renamo em relação à desmilitarização do braço armado do principal partido de oposição, o líder da Renamo defendeu a integração da sua força na polícia e a reintegração nas Forças Armadas de Moçambique (FADM) de alguns dos antigos membros da organização, que foram desmobilizados.

A Frelimo ganhou as eleições gerais em Moçambique, com uma maioria absoluta de 55,97% no parlamento, e o seu candidato, Filipe Nyusi, venceu as presidenciais com 57,03%, segundo os resultados oficiais divulgados pela CNE.

A Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) alega a existência de numerosas irregularidades e solicitou a anulação das eleições à CNE, que, no entanto, rejeitou o pedido.

Tanto a Renamo como o MDM (Movimento Democrático de Moçambique) anunciaram a intenção de pedir a anulação do processo eleitoral ao Conselho Constitucional.

Lusa