Cooperativas resistem à crise
Peniche recebeu a sessão solene do Dia Internacional das Cooperativas no passado dia 6 de Julho, numa sessão que decorreu sob o lema A empresa cooperativa mantém-se forte em tempo de crise. Peniche recebeu a sessão solene do Dia Internacional das Cooperativas no passado dia 6 de Julho, numa sessão que decorreu sob o lema A empresa cooperativa mantém-se forte em tempo de crise. O reenquadramento legislativo deste sector – o da economia social – foi o tema central da sessão, com os principais interlocutores a defenderem o cooperativismo como alternativa cada vez mais viável aos sectores público e privado.O tema central das palestras foi a necessidade de um reenquadramento legal das empresas da economia social. Uma necessidade que teve um abrir de porta pela aprovação unânime na Assembleia da República da lei de bases da economia social e pela inclusão do termo sector da economia social na lei.
A Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES) está a liderar o grupo de trabalho que está a promover a reforma de uma legislação que tem mais de 20 anos.
Eduardo Graça, presidente da CASES, adiantou que o grupo de trabalho tem já em mãos algumas propostas vindas das mais diversas entidades da economia social.
O responsável referiu que a economia social é um sector depreciado, mas muito importante. É o chamado terceiro sector, mas não é residual e tem o mesmo peso e dignidade dos sectores público e privado, defendeu, mas com valores, de cooperação e solidariedade, que lhe vão dar maior protagonismo no futuro face à falência do actual modelo económico.
Eduardo Graça sublinhou que o cooperativismo não pode perder as oportunidades que se abrem com o novo Quadro Comunitário de Apoio, ao qual a economia social terá acesso por orientação da União Europeia.
É por isso que a CASES está a lançar um novo conjunto de projectos para revitalizar o sector, nomeadamente no apoio à criação de cooperativas por jovens, mas também na reconversão de organismos já existentes em cooperativas e outro de recuperação de cooperativas já existentes.
Para além do reenquadramento legal, Jerónimo Teixeira, presidente da Confederação Cooperativa Portuguesa (Confecoop), falou da necessidade de criar uma fiscalidade adequada para as cooperativas, com diferenciação positiva, dando cumprimento ao estatuído na Constituição. E também da necessidade de implementar medidas de apoio financeiro, crédito e técnico.
O dirigente disse que as cooperativas têm que afirmar a sua modernidade e capacidade de inovação, e não copiar as soluções que a empresa capitalista vai assumindo e que conduziram à crise financeira.
Jerónimo Teixeira acredita que o modelo cooperativo tem mais sucesso que o capitalista, por não estar sujeito à lógica das bolsas e à economia de casino. É também mais justa porque as empresas são das pessoas e têm o capital como instrumento, não como determinante.
O presidente da Confecoop sublinhou ainda a prestação das cooperativas financeiras da banca e seguros em altura de crise. Demonstraram ter índices de solvibilidade e de fidelização dos seus membros que não é fácil encontrar comparação nos bancos e seguradoras capitalistas, referiu.
emprego no sector agrícola
Aldina Fernandes, Secretária-geral adjunta da Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confagri), falou da importância que as cooperativas têm no sector agrícola no nosso país.
As 713 cooperativas filiadas na Confagri tiveram um volume de negócios de 2,4 milhões de euros em 2012, dão emprego a 14 mil pessoas e são responsáveis por 42% da produção nacional de vinho, 70% de leite, 30% de azeite e 25% de frutas e hortícolas, algumas detendo marcas de referência no mercado interno e externo, observou.
As cooperativas criam emprego, promovem competências, geram valor económico e não se deslocalizam, defendeu Aldina Fernandes, em contraposição aos modelos de empresa privada.
A representante da Confagri falou ainda da Caixa de Crédito Agrícola, a única cooperativa financeira do país, para ressalvar a solidez dos seus índices financeiros que são posição ímpar, no contexto de crise.
Numa altura em que se discute a valorização do produto nacional e a necessidade de redução do défice da balança agro-alimentar, Aldina Fernandes defende que as cooperativas são a melhor forma de viabilizar as produções de pequena e média dimensão, mas continua a haver resistência em regular este sector, lamentou.
Durante o evento foi lançado o livro Boletim Cooperativista Fernando Ferreira da Costa, da autoria de João Salazar Leite. O autor lançou aos presentes o desafio para que relatem as suas experiências, para que não se perca a história do cooperativismo.
Joel Ribeiro
jribeiro@gazetacaldas.com
Parlamento Europeu aconselha apoio à economia social
Está em discussão no Parlamento Europeu desde o passado dia 30 de Maio um relatório sobre o contributo das cooperativas para ultrapassar a crise, elaborado pela Comissão da Indústria, da Investigação e da Energia. Um documento citado, quer pelo representante da Confeccop, quer da CASES.
Jerónimo Teixeira, da Confecoop, diz que a União Europeia está a reconhecer o papel cada vez mais importante da economia social no quadro da economia europeia, com cerca de 160 mil empresas cooperativas, detidas por 123 milhões de membros, e que empregam 5,4 milhões de pessoas.
O documento salienta o “papel fundamental na economia europeia” quer das cooperativas, quer das restantes empresas da economia social, em particular em tempo de crise, aliando rentabilidade e solidariedade, criando emprego de elevada qualidade, reforçando a coesão social, económica e regional, e gerando capital social.
Reconhece que deve ser criado um enquadramento legal “mais claro e coerente”, tendo em conta a diversidade das instituições desta economia e a sua especificidade.
Joerónimo Teixeira citou ainda uma parte do relatório que defende o reforço da capitalização das cooperativas e a promoção de medidas de apoio, incluindo benefícios fiscais, mesmo que limitados no tempo.
Eduardo Graça, presidente da CASES, notou a exortação à criação de medidas de apoio ao emprego jovem nas cooperativas, assim como a difusão do modelo cooperativo junto de potenciais novos empresários. O documento pede ainda a eliminação de burocracia que limite o desenvolvimento das cooperativas e o acesso ao crédito.
J.R.
O cooperativismo na história de Peniche
António José Correia, presidente da Câmara de Peniche, foi o anfitrião do Dia Internacional das Cooperativas e não quis deixar de realçar a importância que estas tiveram na história recente do seu concelho, no sector das pescas, mas sobretudo no campo da solidariedade e do apoio social.
Lembro-me da crise que se fazia sentir em Peniche logo a seguir ao 25 de Abril, pelo não investimento nas pescas, e o cooperativismo contribuiu muito para a dinamização da actividade económica e nos laços de solidariedade, recordou.
O autarca, também ele com passado ligado ao cooperativismo, disse que as cooperativas souberam em cada momento ser um veículo para encontrar resposta a determinadas necessidades,
começando na Mútua dos Pescadores, que surgiu da vontade de cooperação entre as mais diversas entidades ligadas à pesca. Teve fases complicadíssimas, mas tem sabido encontrar soluções para responder, inovando, modernizando-se, encontrando novos produtos e serviços, sublinhou.
António José Correia falou também da Cerci de Peniche como líder na intervenção social naquela cidade, pela diversidade da acção e pela consolidação dos seus projectos. E também da Acompanha, uma cooperativa de inserção social que intervém nas áreas das equipas de rua.
Defendeu ainda o rejuvenescimento do sector cooperativo, através do programa Coopejovem, que mostrou abertura para apoiar através dos serviços municipais.
J.R.
in Gazeta das Caldas
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