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Notícias

20 de Junho, 2014

ÁFRICA + BRASIL

Uma feliz parceria internacional permitiu capacitar artesãos que agora produzem artesanato de qualidade com design e (bela!) identidade cultural Quem desembarca em São Tomé e Príncipe, na África, é abordado na saída do pequeno aeroporto pelos vendedores de flores com suas braçadas de helicônias e rosas-porcelanas, flores asiáticas tão bem adaptadas ao clima local que se tornaram um dos principais produtos de exportação do país. As duas flores estão entre os temas das coleções de peças de artesanato com a marca Uê Tela: são esculpidas em madeira e pintadas, enfeitando cabos de colheres de cozinha, pés de mesas e de bancos. Outros ícones da cultura santomense integram as coleções, lançadas em 2010 e 2013, conferindo-lhes identidade própria. Há cenas de pescaria, de peixes e outros animais marinhos, da folha da fruta-pão – que é símbolo do país e integra a culinária típica –, dos tons da terra, da mata equatorial, do céu e do mar, dos ladrilhos hidráulicos e dos lambrequins, que, respectivamente, revestem o piso e enfeitam as fachadas das casas antigas. São itens para casa, de papelaria artesanal, vestuário e acessórios de moda: cadernos, papéis e envelopes, jarras, bolsas e sacolas trançadas com a fibra da palmeira ulua, jogos americanos, caixas, bijuteria em coco e chifre.

Os tecidos africanos em cores vivas são bordados e viram peças de roupa, bonecas, bolsas, nécessaires. Também utilizam tecido de algodão que passa por tingimento com plantas da flora nativa. O nome Uê Tela significa em português “olhar da terra” e faz parte do idioma forro, falado pela maioria dos 178 mil habitantes que vive numa área de 964 km² nesse país formado por duas ilhas localizadas no Golfo da Guiné. No lugar, há mais três idiomas e a língua oficial é o português. Quem leu o livro Equador, de Miguel Souza Tavares, está familiarizado com a história de São Tomé e Príncipe, colonizado pelos portugueses – um dos fatores de afinidade com o Brasil. Hoje, essa aproximação se revela também como cooperação e troca cultural: assim é o Projeto de Apoio ao Desenvolvimento da Produção de Artesanato em São Tomé e Príncipe, resultado de parceria entre a Agência Brasileira de Cooperação – ABC e o governo santomense, implementado pelo Instituto Mazal, de Brasília, e realizado pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP. Os cursos começaram em 2009, e os alunos tiveram aulas e treinamentos com designers e mestres brasileiros, aprendendo novas técnicas e aperfeiçoando aquelas que já conheciam. Organizados em associações, representadas pela Cooperativa Uê Tela, podem hoje oferecer ao turista seu artesanato de alta qualidade e com a cara de São Tomé e Príncipe, certificado pela marca que tem até no nome o olhar da terra.